A Era da Estupidez

O caso dos efeitos dos CEM (campos electromagnéticos) a que estamos a assistir não é o único na série de outras catástrofes ambientais que o mundo já sofreu nos últimos 130 anos. O conjunto de casos apresentado no relatório da Agência Europeia do Ambiente (EEA) (sobre o Princípio da Precaução), desde o amianto à doença das vacas loucas, mostra que cada um destes casos atravessou uma série de fases idênticas, desde o início das preocupações até à confirmação total. A princípio há apenas alguns sinais de alarme, depois os estudos sérios multiplicam-se, até o ponto em que não existem dúvidas sobre o problema, pelo menos nos meios científicos sérios. Mas em todas estas fases, a pressão oposta das indústrias interessadas na continuação do produto nefasto (ou da poluição causada), e dos governos coniventes, faz quase desaparecer a consciência pública e alargada sobre o problema. Através de contra-campanhas, de “afirmações públicas para tranquilizar as pessoas”, ou pela pura e simples eliminação de dados, de opiniões e dos media que possam ter a veleidade de contrariar a “posição oficial”.

E assim, das 10 fases identificadas no livro, só na última fase, quando o problema já atingiu dimensões catastróficas, com largos números de mortos ou de regiões destruídas, é que finalmente a “posição oficial” decide rever a atitude, e toma medidas para produzir efeitos. E entretanto decorrem em média 25 anos, desde o início dos sinais alarmantes até à tomada de medidas oficiais. O tempo suficiente para aparecer outro produto a substituir o anterior, ou outra tecnologia, e o ciclo eventualmente recomeçar de novo…

Importa assim tomar a atitude recomendada no relatório da EEA, uma atitude de “Precaução cautelar”, e logo que apareçam alguns sinais preocupantes, deve-se considerar que há perigo até prova em contrário. E não agir como se faz actualmente: “deixa andar a coisa até estar bem provado que é nocivo…”. Porque na verdade a prova definitiva e absolutamente irrefutável pode nunca chegar. Como por exemplo, ainda hoje não se sabe exactamente como é que o fumo do tabaco provoca o cancro, mas mesmo assim já ninguém tem dúvidas sobre isso.

Mas, para além das pressões e campanhas de desinformação, feitas para atrasar a tomada de consciência pública deste tipo de problemas e a tomada de medidas pelos governos, existe um outro grande factor, talvez muito mais importante. Este factor é a atitude de boa parte das pessoas quando lhes são apresentados estes sinais alarmantes, ou quando fazem face às pessoas que lançam os alertas. “Isso são exageros, ou imaginações de cabeças paranoicas !”.

Esta foi a atitude para comigo de uma das minhas irmãs. E quando lhe perguntei se tinha sequer lido minimamente os artigos que escrevi, com todas as referências e estudos, as posições oficiais de alguns governos mais avisados que os nossos, ela responde-me simplesmente que não leu. Ou seja, nem sequer se deu ao trabalho de ver se isto pode ter ou não algum fundamento. “Porque isto só pode ser mais uma imaginação daquele paranóico…”

Serão também paranóicos aqueles que impuseram medidas de protecção e cautela nos seus países (como a Áustria e a Rússia), aqueles que proibiram os telemóveis  e os wifi’s nas escolas, as centenas de cientistas que já assinaram uma petição pública dirigida à Nações Unidas e à OMS e todos aqueles que já estão a começar a sentir na pele os efeitos da exposição aos CEM’s ?

E como a minha irmã, eu suspeito que mais gente pensa o mesmo (dentre os que lêm estes artigos, e muitos mais). Talvez mesmo o grosso dos “silenciosos”, aqueles que nunca dizem ou comentam nada (ou que prometem comentar, tendo capacidade para o fazer, mas que depois se eclipsam…). Ou que mesmo que não considerem isto “paranóias”, simplesmente não acham “nada”, não se dão ao trabalho de pensar, nem de verificar aquilo que se passa à volta deles e que pode estar-lhes a prejudicar a vida e a saúde. “Isso é trabalho para os especialistas e as autoridades que controlam essas coisas.”

Mas essas pessoas ainda não perceberam (e se calhar nunca o vão perceber) que neste mundo, se não formos nós próprios a zelar pelos nossos interesses, não vão ser os outros que o vão fazer por nós ? Ainda recentemente, eu passei por uma situação, indevidamente provocada por um banco, o qual me “estendeu uma rasteira”, a ver se eu caía nela… Como quem deixa uma perna estendida e depois se desculpa “não foi com intenção…”. Mas felizmente que decidi tomar uma atitude para pôr as coisas a claro (a custas minhas) e não deixar a “rasteira” se arrastar eternamente. Como bem dizia um familiar meu (que é gerente num banco) : “Se não tomas a teu cargo a resolução do problema, não vai ser o banco, nem ninguém, que te vai pôr fim a essa situação (causada pelo próprio banco).”

É claro que nem toda a gente tem a inclinação, ou a capacidade, de analisar estudos científicos ou relatórios complicados, ainda para mais a maior parte em inglês (pois em português vai ser difícil encontrar alguma coisa de jeito...). Mas podem sempre prestar atenção às notícias sobre o assunto, e às inúmeras pessoas que falam sobre o assunto, àqueles que já estão seriamente atingidos, nos fóruns de discussão, nos blogs, e penso que até no facebook.

Mas enfim, todas essas atitudes das pessoas, a preguiça mental (“não tenho pachorra de saber…”), o preconceito e a rotulagem fácil (“aquele é louco e paranóico, por isso tudo o que ele possa dizer é lixo…”), apontam antes para um estado dos nossos tempos, uma estupidificação generalizada. Com o Fim da Inteligência (título de um artigo do meu amigo Daniel, que penso traduzir e publicar aqui) estamos a entrar na Era da Estupidez. Estupidez que aliás é também uma das consequências nefastas da exposição aos CEM’s, visto que um dos principais efeitos é atacar todo o sistema neurológico (Ref 1   Ref 2   Ref 3). E sem um sistema neurológico saudável podemos estar certos de caminhar para um nível de inteligência equivalente ao QI dos burros e das vacas (e não quero denegrir estes dois animais...pobres bichos).



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